Certo dia, um político da região me falava sobre a visita feita por ele a capital federal. Do valor mínimo dado a um componente, eleito pelo povo, do legislativo municipal. Segundo ele, era necessário mentir, fazendo-se passar por prefeito, para poder ter algum valor moral e ser recebido mais dignamente em quaisquer circunstâncias por lá. Não seria importante então reconhecer a legitimidade de um representante do povo? Como podemos entender que os eleitos foram escolhidos corretamente?
Em alguns municípios a jogatina com o poder, emanado do voto popular, torna esse valor questionável. Hora, pois que tipo de visão um político da “elite brasileira” teria sobre o povo de municípios pobres do norte do Brasil, onde os níveis nas pesquisas educacionais são sempre os mínimos? Qual seria o perfil desse eleitorado?
Pois bem, quando nossos políticos chegam por lá são vistos com a mesma desconfiança depositada ao povo que os elegeu. Sabe quando uma pessoa maltrapilha entra em uma loja de automóveis e começa a namorar um carrão? Reflita. Seria preconceito? Talvez, se os responsáveis por essa ignorância popular não fossem os mesmos políticos vistos também como ignorantes fora daqui.
Um ditado muito falado nessas bandas daqui diz que “não se deve entrar em política sem dinheiro’’. E isso quem diz é o mesmo povo que os elege. Porém, nenhum político diz gastar muito em suas campanhas depois de eleito. Ter dinheiro antes da campanha é lei, pois não é realmente interessante formar grupos sem apoio financeiro, senão como ajudar o povo pobre durante a campanha? Pena que dure tão pouco.
E a educação? Como abrir os olhos de quem vota nos homens do dinheiro, que não são em sua totalidade pessoas ruins? Como acreditar que tudo está bom, ou que um dia vai melhorar? É como as cartilhas feitas por grandes projetos hidrelétricos, por exemplo, que trazem na capa índias carregando seus filhos e expressando um sorriso encantador – algumas posam até com o rosto maquiado. Ou como um colono que, aos 40 (quarenta) e tantos anos de sua vida vai ter a oportunidade de assinar a carteira pela primeira vez. Um colega de faculdade me falou sobre atraso uma vez: “É porque nosso país ainda é muito novo. As potências mundiais são muito antigas’’.
Os educadores do futuro ainda vão surgir? Ou será que somos nós? Nossa realidade é melhor que a de nossos pais? Não podemos pular etapas quanto ao desenvolvimento intelectual? Ou será mais fácil fechar os olhos e deixar como está? Continuar a transmitir nossas falhas, que já foram também as falhas de nossos antecessores parece bem cômodo. “Eu aprendi assim’’! Já ouviram isso?
Hoje entrei na Câmara Municipal de meu município para assistir á sessão ordinária – que não houve por falta de quorum – portanto, repito: “ordinária’’. Um prédio feio, antigo, mal arrumado onde o forte odor das fezes de morcego nos recepciona. Imaginemos então como boas leis podem surgir ali? E surgem, mas qual a importância, que valor é dado a isso? Seria o mesmo valor do voto? Ou do político do início do texto?
Nosso sistema educacional ainda caminha, é verdade. Nossos revolucionários, ainda nem nasceram. Pra onde foram então as canções de Cazuza, Renato, e tantas outras que tanto moveram os jovens nas décadas passadas? Teriam sido só mais um modismo? Educar é cada vez mais difícil, pois, o objetivo da educação de hoje é ensinar a tirar proveito: tornar carente, mostrar que possui o que se precisa, dar uma migalha de cada vez e manter-se no poder o maior tempo possível. É preciso mudar, e mudar mais, continuar mudando.
Parece complicado, pra quem gosta de matemática, parece até uma equação, mas tudo isso – perguntas e respostas – se faz, todos os dias, e em qualquer lugar onde haja democracia, com um único voto.