De acordo com a decisão, os três têm até dez dias para responder à acusação e, no momento, são considerados foragidos.
O assassinato
O casal de lideres extrativistas José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva foi executado na manhã de terça-feira dia 24 de Maio deste ano na cidade de Nova Ipixuna, no sudeste do Pará, cidade a 390 quilômetros de Belém.
A suspeita de Organizações Não Governamentais (ONG’s) e da família de Ribeiro é que eles tenham sido executados por madeireiros da região. Silva era considerado sucessor de Chico Mendes, em referência ao líder dos seringueiros do Acre que foi morto em 1988 por sua defesa da Amazônia.
Pelas primeiras informações, o casal saiu do Projeto de Assentamento Agroextrativista Praia Alta Piranheira, localizado a cerca de 50 quilômetros da sede do município de Nova Ipixuna, quando foi cercado em uma ponte por pistoleiros. Ali, eles foram executados a tiros.
A Polícia Civil do Pará está investigando o caso mas não confirmou ainda a hipótese de execução comandada por madeireiros da região. O Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), ONG fundada por Chico Mendes da qual o casal participava, solicitou também investigação por parte da Polícia Federal e apoio do Ministério Público Federal (MPF) e Assembléia Legislativa do Pará. A presidenta Dilma Rousseff determinou que a PF ajude a desvendar o caso.
José Claudio da Silva vinha recebendo ameaças de madeireiros da região desde 2008. Segundo informações do CNS, desconhecidos costumavam rondar a residência do casal disparando vários tiros para tentar intimidá-los. José Cláudio da Silva era um dos principais defensores da preservação da floresta amazônica após a morte de Chico Mendes e constantemente fazia denúncias sobre o avanço ilegal na área de preservação onde trabalhava por madeireiros para extração de espécies como castanheira, angelim e jatobá.
Em novembro do ano passado, durante evento que discutiu a preservação da floresta amazônica, José Cláudio da Silva classificou como “assassinato” a derrubada de árvores da região e disse que “vivia com a bala na cabeça” por causa das constantes denúncias contra madeireiros. “Vivo da floresta, protejo ela de todo jeito. Por isso, eu vivo com a bala na cabeça a qualquer hora, porque eu vou pra cima, eu denuncio os madeireiros, eu denuncio os carvoeiros e por isso eles acham que eu não posso existir”, disse.
Ele ainda declarou. “A mesma coisa que fizeram no Acre com Chico Mendes querem fazer comigo. A mesma coisa que fizeram com a Irmã Dorothy querem fazer comigo. Eu estou aqui conversando com vocês, daqui um mês vocês podem saber a notícia que eu desapareci. Me perguntam: tenho medo? Tenho, sou ser humano, mas o meu medo não me cala. Enquanto eu tiver força pra andar eu estarei denunciando aquele que prejudica a floresta”, afirmou.
Segundo Atanagildo Matos, Diretor da Regional Belém do CNS, a morte de José Cláudio e Maria da Silva é uma perda irreparável. “Eles nos deixam uma lição, que é o ideal dos extrativistas da Amazônia: permitir que o povo da floresta possa viver com qualidade, de forma sustentável, em harmonia com o meio ambiente”, diz Matos.
O casal vivia há 24 anos em Nova Ipixuna. Eles moravam em uma área de aproximadamente 20 hectares, com 80% de área verde preservada. Eles viviam da extração de óleos de andiroba e castanha e recentemente firmaram um convênio com a Universidade Federal do Pará para produção sustentável de óleos vegetais. Além do casal, outras 500 famílias moravam no PAEX Praialta Piranheira que tinha uma área total de 22 mil hectares.